O Departamento de Clínica Médica da FMRP é em vista de sua diversidade, matizado pelos tons legados pelos seus pioneiros, porém a colaboração básica foi dada e permanece indelével, embora sutil, pelo seu fundador o Prof. Hélio Lourenço de Oliveira. Aos 36 anos de idade, em 1953, o jovem Professor Livre-Docente, chefe do Serviço de Moléstias da Nutrição do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP – São Paulo, foi convidado para organizar e dirigir o Departamento de Clínica Médica desta Faculdade. Meditou muito, aconselhou-se outro tanto, antes de decidir-se a enfrentar a nova tarefa.
"No encargo da organização inicial do Departamento de Clínica Médica da FMRP-USP, incluía-se a responsabilidade de conduzir duas experiências novas. A primeira era de construir uma equipe de docentes clínicos trabalhando em regime de tempo integral. Seriam essenciais, por isso, os recursos adequados e o ambiente propício à investigação científica, sem o que tal regime de trabalho perderia o sentido. A segunda era organizar o ensino de Clínica Médica em sentido amplo, pois o Departamento deveria unificar o que tradicionalmente tinha sido atribuição independente de mais de uma cátedra da mesma denominação, e ainda a cátedras autônomas de Propedêutica, Terapêutica, Radiologia e Moléstias Infecciosas".
(H. L. de Oliveira - Curriculum Vitae, Concurso de Cátedra da FMRP em 1963 - página 5)
Durante sua carreira, ocupou todos os postos da Universidade, chegando ao de Vice-Reitor, quando no exercício da Reitoria, promoveu apoiado pela maioria dos professores e alunos, a primeira grande reforma da Universidade de São Paulo.
A Universidade não ficou imune às convulsões políticas e sociais que marcaram as décadas de 60 e 70. Partícipe desses movimentos, através de seus docentes e alunos, sofreu a perda de sua autonomia. A aposentadoria compulsória do então Vice-Reitor, Prof. Hélio Lourenço de Oliveira, em 1969, constitui claro exemplo dos erros resultantes da intervenção político-partidária e ideológica na Universidade.
Neste ponto, abriu-se um novo capítulo na vida do Departamento, resultante da supressão aguda do seu marcador de ritmo, embora a esta altura os docentes pioneiros já estivessem preparados para as tarefas que os aguardavam. Alguns distúrbios do ritmo eram esperados, mesmo que não tivesse havido o afastamento do Prof. Hélio. A reforma por ele liderada, apesar das alterações que sofreu, trazia ainda um componente muito forte de transformações, que acabaram por determinar modificações profundas não só no Departamento de Clínica Médica, como também em toda Universidade. É lícito supor, portanto, que transformações maiores poderiam ter acontecido, se a reforma tivesse sido implantada conforme havia sido aprovada anteriormente pelo Conselho Universitário.
O Prof. Hélio cultivava o respeito à dignidade no seu sentido mais amplo, aplicado tanto às pessoas como às Instituições. A observância deste princípio, de que nunca abriu mão, custou-lhe o afastamento compulsório da Universidade. No período inicial de seu afastamento (1969-1972) exerceu o cargo de conselheiro da Organização Mundial de Saúde, no setor de Ensino Médico, em Alexandria, Egito, abrangendo o Oriente Médio e o norte da África.
Retornou à USP no ano de 1982. Rapidamente incorporou-se, começando a influir novamente na Universidade com suas idéias e atitudes. Ao retornar, trazia todos os seus títulos, e apesar disso, foi dignamente por sua livre escolha dar aulas aos alunos do 41º ano médico, no posto de saúde da Vila Lobato. Em breve foi eleito Chefe do Departamento de Clínica Médica e posteriormente Diretor da FMRP. Não seria inesperado que voltasse a ocupar o cargo máximo na USP, não tivesse falecido a 14 de março de 1985.